segunda-feira, 27 de setembro de 2010

AUTISMO INFANTIL- ELE NÃO É UM ESTRANHO!

Observar a criança durante os primeiros meses de vida é fundamental para detectar o distúrbio

Por Rafaela Fusieger

“Procurei um médico apenas quando ele tinha três anos, porque sempre tinha alguém que falava: ‘menino demora mesmo para começar a falar’; ‘ele é tímido igual ao pai’. Na verdade, eu deveria ter procurado um médico antes”. O depoimento é de Rosinei Miranda Caetano, mãe de Guilherme. A partir de 1 ano e 6 meses de idade o menino já apresentava déficit no desenvolvimento em relação à fala, no entanto a ajuda médica foi procurada 1 ano e meio depois, e o diagnóstico foi autismo.

Conforme Nicolas Laza, neuropediatra da Colômbia e coordenador do Grupo de Apoio a Distúrbios de Comportamento e de Aprendizagem Neuroxtimular, o autismo pode ser considerado um transtorno do desenvolvimento da função cerebral que impede os indivíduos de “entender e se relacionar adequadamente com o ambiente”. Este distúrbio produz problemas em diferentes graus das relações sociais de comunicação, como a capacidade de expressão e a compreensão da linguagem, além de ocasionar “a redução nas atividades que exigem um certo grau de imaginação, devido à falta de flexibilidade mental”, explica.

Rosinei, mãe de Guilherme, reside em Curitiba e conta que assim que o bebê nasce os pais recebem a caderneta de Saúde da Criança Curitibana. Na caderneta, constam itens relacionados ao desenvolvimento da criança e, assim, mês a mês os pais devem acompanhar e anotar cada evolução do filho. “A partir de 1 ano e 6 meses a 2 anos, no item em que a criança “começa a juntar duas palavras, construir frases simples, pedir as coisas pelo nome” não anotamos nada”.

Em relação aos aspectos físicos, o menino progredia normalmente: começou a andar no tempo certo e também deixou de usar a fralda sem preocupações. No entanto, a mãe conta que o ponto mais crítico realmente foi falar. “Na outra fase (da caderneta), que é de 2 anos a 3 anos, a criança já deve perguntar de tudo, aprender várias palavras, entender e responder perguntas simples, saber o seu nome, o de seus pais, irmãos e avós. Ele não fala isso até hoje, já com 4 anos e 8 meses”, lembra.

A importância do diagnóstico precoce

O autismo manifesta-se sempre antes dos 30 meses de vida da criança, pode aparecer já no nascimento ou durante o desenvolvimento. Aproximadamente 10 a 15% dos indivíduos com autismo têm inteligência normal ou acima do normal; 25 a 35% estão na faixa de um leve retardo mental, enquanto os outros possuem retardo mental de moderado a profundo. Quanto mais cedo a disfunção for detectada, mais possibilidades a criança tem de se desenvolver.

Para a pedagoga Mariana Esteves Statzner, Pós-Graduada em Estimulação Precoce, a intervenção e estimulação precoce desempenha um papel muito importante no desenvolvimento da criança, nos primeiros anos de vida, pois ela ocorre em etapas críticas do desenvolvimento psicomotor. “A finalidade é reabilitar e/ou recompensar os atrasos evolutivos. Nas crianças autistas, a estimulação vai colaborar para o desenvolvimento das características ditas normais. Ou seja, se ocorrer precocemente, a possibilidade do desvio do comportamento ser menos acentuado, é maior”. Ela salienta que é importante pensar que os autistas têm lacunas em algumas áreas, no entanto todos têm potencial para progredir.

Nicolas Laza, neuropediatra, reforça que estudos comprovam que todas as pessoas com autismo podem melhorar significativamente o seu comportamento de acordo com uma adequada educação e intervenção precoce, feita por uma equipe multidisciplinar, utilizando programas especiais personalizados e envolvendo um certo grau de repetição. “Em alguns pacientes em que foi realizada a intervenção precoce, muitas vezes constatamos tanta melhora que tivemos que parar para realizar uma reavaliação do diagnóstico inicial”.

“Além da medicação, passamos também, depois de muitos estudos e ajuda das terapeutas, a perceber que o isolamento muitas vezes, é por não saber como chegar nas pessoas. Temos que ter sempre a iniciativa, e estar ciente disso. Acho muito engraçado quando ele vê alguém que gosta muito, parece que a mente dele pensa: ‘vou abraçar’, o corpo dá o impulso, com se fosse mesmo, mas ele não sai do lugar. Já presenciei isto algumas vezes, aí digo para a pessoa ele quer abraçar. Então a pessoa retribui, dá uns apertões e ele fica feliz”, conta Alessandra, de Florianópolis, mãe de Guillermo, 4 anos, diagnosticado com autismo aos 2 anos e 6 meses.

A intervenção

Atualmente, Mariana, que reside no Rio de Janeiro, faz atendimento domiciliar a cinco crianças autistas. Ela comenta que não trabalha com uma técnica fechada de intervenção. “Porque acho que não cabe, ainda mais quando falamos e pensamos em diversidade. Se todos somos diferentes porque temos que aprender da mesma forma?”, questiona.

A pedagoga segue os preceitos do Programa Son-Rise, que prega uma abordagem prática e abrangente para inspirar a pessoa com autismo a participar espontaneamente de interações divertidas e dinâmicas com outras pessoas, tornando-se aberta, receptiva e motivada para aprender novas habilidades e informações.

“Trabalho a partir dessa filosofia e seguindo os interesses da criança. Mas nada me impede de lançar mão de outras técnicas como o PECS (sistema de utilização de cartões de figuras) e do TEACCH (ensino estruturado). O importante é conhecer as vantagens e desvantagens de cada uma delas e sua aplicabilidade correta. É trabalhar com responsabilidade”, finaliza.

Nicolas Laza, neuropediatra, explica que um bom tratamento para crianças autistas dependente, principalmente, de quatro fatores: 1 – deve ser realizado de forma individualizada; 2 - o envolvimento dos pais deve ser entendido como um fator chave para o sucesso; 3 – o tratamento deve ser bem estruturado; 4 – deve ser intensivo e se estender a todos os contextos do indivíduo.

O não-verbal expressado pelos autistas

“Perceber os sinais… como é difícil! E muitas vezes vejo que a falta de comunicação não é dele, é minha. Falo isso em relação ao tirar fraldas. Quando ele faz coco, ele tira a fralda ou a cueca aonde estiver, claro que suja as perninhas e sai pisoteando tudo pela casa e vai pro chuveiro.

Portanto sempre que faz xixi, principalmente na cueca, ele já corre para o chuveiro e eu tenho medo porque ele pode escorregar. Isso já aconteceu e abriu o queixo, então é aquela tensão: ‘fechou a porta?’, ‘Chaveou?’. É sempre em sentinela, e como cansa!

Faz dois dias que deixei ele de fralda quando chega da aula à tarde. Hoje por um deslize deixamos a porta aberta e ele correu pra lá, logo sentimos que o chuveiro estava aberto, era ele, mas não havia feito nada, tinha se molhado todo, e eu ainda briguei e o repreendi.

Aí ele voltou para o quarto, minutos depois veio ele todo sujo para porta do banheiro e todo pisoteado. Ele tentou avisar do jeito dele, já devia estar sentindo vontade, era mais ou menos o mesmo horário dos dias anteriores, eu que não percebi, mas ele se comunica sim.”

O relato acima é de Alessandra, mãe de Guillermo. Conforme Nicolas Laza, neuropediatra, uma das características clínicas do autismo é o pensamento visual. “Elas pensam em imagens, não em palavras. Através de desenhos compõem o que é abstrato ou complexo, tais como tempo, seqüência, situações sociais”, explica. A linguagem verbal é o “segundo idioma” dos autistas. Neste caso, Guillermo tentou, da sua forma, mostrar que precisava ir ao banheiro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE AUTISMO NA PARAÍBA

Evento acontece em João Pessoa, dos dias 28 a 30 de outubro. Inscrições pelo site

Acontece dos dias 28 a 30 de outubro, em João Pessoa na Paraíba, o VIII Congresso Brasileiro de Autismo com o tema "Saúde mental e educação especial inclusiva".

Durante o congresso serão abordados temas como inclusão, políticas públicas, direitos humanos, educação, comportamento, terapias combinadas, cognição, a importância do brincar, sexualidade, entre outros.

Informações e inscrições no site da AMA-PB www.amapb.com.br ou pelos telefones (83) 3045.2980 ou (83) 3226.2431


Serviço

Data: 28 a 30 de outubro
Local: João Pessoa - PB

Fonte: AMA - PB

Mutações do gene PTCHD1 no cromossomo X é causa de autismo nos homens

Cientistas descobriram que meninos que carregam alterações específicas do DNA do cromossomo X estão em alto riscotamanho da letra
A-A+Foto: Divulgação/Austim Center Research

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Criança com autismo participa de dia de recreação na praia acompanhada da família
Uma pesquisa do Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH) e do Hospital para Crianças Doentes (SickKids), ambos em Toronto, Canadá, fornece novas pistas sobre o porquê do espectro autista (TEA) afetar quatro vezes mais homens que mulheres. Os cientistas descobriram que os meninos que carregam as alterações específicas do DNA do cromossomo X estão em alto risco de desenvolverem autismo (ASD).

O ASD é uma desordem neurológica que afeta o funcionamento do cérebro, resultando em desafios de comunicação e interação social, padrões incomuns de comportamento e, muitas vezes, déficits intelectuais. A doença afeta uma em cada 120 crianças, sendo predominante entre os meninos (em média, 70 meninos). Apesar de todas as causas do autismo ainda não serem conhecidas, pesquisas apontam, cada vez mais, para fatores genéticos. Nos últimos anos, vários genes envolvidos na ASD foram identificados.

A equipe de pesquisa, conduzida por John B. Vincent, chefe de Neuropsiquiatria Molecular do CAMH, e por Stephen Scherer, diretor do Centro de Genômica Aplicada na SickKids, alisaram as sequências genéticas de dois mil indivíduos com ASD e compararam os resultados com grupo controle. Eles descobriram que cerca de 1% dos meninos com autismo tiveram mutações no gene PTCHD1 no cromossomo X. Mutações semelhantes não foram encontradas no grupo controle do sexo masculino. Além disso, as irmãs com a mesma mutação aparentemente não foram afetadas.

"Acreditamos que o gene PTCHD1 tem papel em uma via neurobiológica que fornece informações para as células, durante o desenvolvimento do cérebro. Essa mutação específica pode perturbar processos de desenvolvimento, contribuindo para o aparecimento do autismo", disse Vincent. "Nossa descoberta vai facilitar a detecção precoce, que, por sua vez, aumenta a probabilidade de intervenções bem sucedidas".

Scherer acrescenta que "o predomínio do gênero masculino no autismo tem intrigado os cientistas durante anos e agora temos um indicador que começa a explicar por que isso acontece. Os meninos são meninos, porque eles herdaram um cromossomo X de sua mãe e um cromossomo Y de seu pai. Se em um menino cromossomo X está faltando o gene PTCHD1 ou outras sequências de DNA nas proximidades, eles estarão em risco elevado de desenvolverem o ASD ou deficiência intelectual. As meninas são diferentes, mesmo se nelas estiverem faltando um gene PTCHD1, porque elas têm um segundo cromossomo X, protegendo-as da ASD ". O pesquisador acrescenta: " Embora estas mulheres sejam protegidas, o autismo pode aparecer em futuras gerações de meninos em suas famílias".

Os pesquisadores esperam que estudos mais aprofundados sobre o gene PTCHD1 também possam indicar caminhos para novas terapias.





Fonte: Isaude.net

sábado, 18 de setembro de 2010

DESCOBERTA ABRE CAMINHO PARA TRATAR AUTISMO.

Descoberta abre caminho para tratar o autismo
Extraído de: Coordenadoria dos Direitos da Cidadania - 17 de Setembro de 2010
Pesquisa mostra que dobramento errado de uma proteína e outras anomalias moleculares estão associados autismo.

Uma equipe internacional de especialistas, liderada por pesquisadores da Universidade da Califórnia, San Diego, descobriu que o dobramento errado de uma proteína chamada neuroligina-3 e outras anomalias moleculares em uma importante proteína do cérebro estão associados aos transtornos do espectro do autismo. O estudo foi divulgado no Journal of Biological Chemistry.

Identificar e descrever a ligação da proteína dobrada incorretamente representa um avanço na compreensão das causas de certos autismos, incluindo as influências de genes em oposição ao ambiente, e talvez ofereça um novo alvo para possíveis terapias medicamentosas.

Se a mutação é identificada cedo, talvez seja possível salvar neurônios afetados antes que conexões sinápticas anormais sejam estabelecidas, conta o coautor do estudo, Davide Comoletti.

Mas há muito trabalho pela frente. Talvez sejamos capazes de descobrir um tratamento para reparar uma célula em desenvolvimento, mas salvar a atividade dentro de um organismo vivo pode não ser viável com a mesma estratégia.