segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos-FANTÁSTICO-matéria exibida em 25/08/2013

Uma das maiores preocupações das famílias que estão no universo particular do autismo é com o futuro dessas crianças. Elas devem ir para escolas regulares ou especiais? E, quando crescerem, vão ter condições de conseguir um emprego?
No último episódio da série, o doutor Drauzio Varella mostra que o diagnóstico de autismo, em muitos casos, não impede que a pessoa trabalhe, seja produtiva e construa uma vida.

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O autismo afeta quase todos os aspectos do comportamento: a fala, os movimentos do corpo, o interesse por amizades, a vida social, as emoções. O mundo autista é muito variado. Vai dos que nem falam, até aqueles com habilidades incríveis. Como educar crianças com necessidades tão diferentes? Colocá-las em escolas comuns ou especiais?
Como incluir no mercado de trabalho pessoas com tanta dificuldade para compreender as intenções dos outros? Inclusão. É o tema do último episódio da série Autismo: universo particular.
O autismo deve ser diagnosticado precocemente para que a criança possa ter acesso a profissionais especializados. É nessa fase inicial que o tratamento tem os melhores resultados.
EDUCAÇÃO
Crianças com autismo podem desenvolver talentos específicos em determinadas áreas do conhecimento.  Desde que essas habilidades sejam identificadas e estimuladas de forma inteligente. Esse passo inicial muitas vezes depende da escola.
“Se ele puder, deve ficar numa escola regular até o momento em que ele começa a sentir que ele não é igual aos outros, que ele está sempre atrás demais e que isso comece a trazer problemas para ele. Mas eu não vejo por que um autista com deficiência intelectual severa estar dentro de uma classe regular. Ele está perdendo tempo. Ele não está se socializando”, avalia o doutor Salomão Schwartzman.
O Lucas sentiu na pele esse problema. Até a quinta série, frequentou uma escola convencional. “Eu não lembro o que, mas não me sentia bem com aquela gente. Não pareciam ser, como diziam, amigos de verdade. Como se rissem atrás de mim, sobre minhas costas e nunca tinha notado”, lembra o jovem.
Crianças com autismo são alvo fácil para as maldades típicas da infância. Agora, Lucas está matriculado na AMA, a Associação de Amigos do Autista, e também estuda em casa, com a ajuda da mãe.
Em Curitiba, os pais de Thomas e Nicholas encontraram uma fórmula intermediária para a educação dos filhos.
Thomas, que tem um tipo mais leve de autismo, estuda em uma escola particular de alto padrão. Aos 15 anos, Thomas tem um talento especial para matemática avançada e ciência da computação.
Nicholas, que tem uma forma mais grave de autismo, frequenta a mesma escola do irmão em meio período, e complementa a educação em uma clínica especializada em terapia comportamental, onde conta com a ajuda de profissionais de diversas áreas.
Uma das escolas mais preparadas para tratar e educar pessoas com autismo fica em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
É uma escola pública totalmente adaptada para os 250 alunos, entre 3 e 21 anos. Lá, os alunos aprendem profissões que possam desempenhar mesmo com as limitações que apresentam.
Numa área que imita uma rua de comércio, eles entendem como se organiza a correspondência de um escritório, por exemplo, ou como se trabalha em um banco ou supermercado.
No Brasil, o acesso a essa qualidade de ensino depende do poder aquisitivo das famílias.
Quem tem condições encontra boas escolas particulares como uma em São Paulo, onde 80 alunos com o transtorno convivem em harmonia com as demais crianças. Para conseguir emprego para os alunos, a escola fez uma parceria com um grande banco.
Desde dezembro de 2012, o autismo é considerado, por lei, um tipo de deficiência mental. As pessoas que apresentam esse transtorno têm direito a benefícios na rede pública de saúde e de ensino.  A aprovação da lei só foi possível graças à dedicação de muitos pais, em especial Berenice Piana, mãe de um rapaz com autismo.
“A lei é, na verdade, a Carta Magna dos direitos das pessoas com autismo no Brasil. O ponto principal dela é: reconhece a pessoa com autismo como pessoa com deficiência.  Segundo: o direito ao diagnóstico precoce. O tratamento multidisciplinar são vários profissionais para tratar uma pessoa com autismo. O direito à matrícula na rede regular de ensino. É proibido negar a matrícula a uma pessoa com autismo, sob pena de multa”, ela explica.
Mas, na realidade, ainda há um longo caminho a percorrer. Muitos pais não conseguem atendimento para seus filhos.  Foi o que aconteceu com o Matheus. Ele é deficiente visual e tem autismo. A mãe dele, Eliane, ganhou na Justiça o direito de o filho receber aulas em casa com um professor da rede pública. Mas os livros didáticos oferecidos não estão em Braille, o sistema de leitura para cegos.
Em uma escola municipal, em São Paulo, Yasmin, de 7 anos, recebe a orientação de profissionais em uma sala multifuncional, adaptada para a realização de atividades específicas. Além disso, crianças com autismo devem ser acompanhadas por estudantes de pedagogia durante as aulas.  Mas não há ainda, na rede pública do município, estagiários suficientes. A prefeitura de São Paulo diz que está contratando mais estagiários.
MERCADO DE TRABALHO
A inclusão no mercado  de trabalho é difícil, mas existe. É o caso de Alberto. Ele tem 21 anos e foi diagnosticado com autismo aos 3. Desde pequeno, ele estuda e consegue fazer a maioria das atividades diárias por conta própria.
Como mostrado no último episódio, com treinamento adequado, algumas pessoas com autismo atingem um grau razoável de independência - o suficiente, por exemplo, para andar pela cidade e usar o transporte coletivo.
Alberto é balconista em uma farmácia em São Paulo. Mas atingir esse nível de autonomia, infelizmente, não é regra entre as pessoas com autismo.
Pelo poder de concentração em uma atividade e à atenção aos detalhes, pessoas com autismo podem ser profissionais imbatíveis.
Numa empresa fundada na Dinamarca, hoje presente em oito países, a maioria dos empregados está dentro do espectro do autismo. Ela vende serviços de programação de computadores e processamento de dados. a tecnologia é um campo excelente para o desenvolvimento das capacidades dos autistas.
O gerente da empresa se orgulha da política de inclusão. Esse é o começo de carreiras brilhantes para essas pessoas. Com suas capacidades desenvolvidas, esses profissionais vão para trabalhos cada vez mais complexos, e se tornam independentes.
Quando os pais não estiverem mais presentes, eles poderão ter vidas produtivas e se sentir realizadas.
FUTURO
O doutor Drauzio Varella conta que, durante as gravações da série, aprendeu que o autismo desorganiza a comunicação e as funções sociais. Que as manifestações iniciais podem ser notadas já nos primeiros meses de vida e que é fundamental reconhecê-las o mais cedo possível, em uma fase em que o cérebro tem grande plasticidade para formar novas conexões, em resposta aos estímulos educativos.
Para compreender e educar uma criança com autismo, é preciso esforço, dedicação e sabedoria para penetrar em seu universo, e fazer com que o nosso lhe pareça mais acessível e menos absurdo.
Kevin já começou esse processo. Por enquanto, ele está em tratamento clínico no Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS. A família de Idryss comemora as pequenas conquistas. Hoje, os pais vão deixá-lo em casa com uma amiga e ter a primeira noite romântica em muitos anos

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O AUTISMO E A INCLUSÃO ESCOLAR

Texto de autoria de Camila Gadelha, psicóloga formada pela UFAM – atualmente, fazendo especialização em Psicologia Clínica no Instituto de Psicologia Fenomenológica Existencial do Rio de Janeiro, tendo o autismo como objeto de estudo.
O Transtorno de Espectro Autista é um quadro complexo, que pode envolver prejuízos, principalmente na questão social, de comunicação e comportamental. Esses prejuízos acabam refletindo na questão educacional, exigindo abordagens multidisciplinares concretas, para um melhor desenvolvimento.
O autismo pode ocorrer em qualquer classe social, raça ou cultura, sendo que cerca de 65 a 90% dos casos estão associados à deficiência mental (Gadia, Tuchman,& Rotta, 2004). Esses números vêm contra a ideia de que os autistas tem inteligência superior ao resto da população.
É importante lembrar que o autismo, por se tratar de um espectro, tem seus “sintomas” variando em modos e intensidades, o que significa dizer que nunca um autista será igual ao outro, assim, como nunca uma pessoa que não tem autismo é igual a outra, etc. A criança pode se isolar, pode aceitar a interação, ela pode até mesmo mostrar interesse em interagir com as outras pessoas.
Bosa (2002) afirma que a ausência de respostas das crianças autistas deve-se, muitas vezes, à falta de compreensão do que está sendo exigido dela, ao invés de uma atitude de isolamento e recusa proposital. Dessa forma, julgar que a criança é ausente ao mundo e aquilo que acontece ao seu redor, além de ser uma inverdade, acaba restringindo a motivação para se investir na sua potencialidade para interação.
No Brasil, existe uma lei, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, mais especificamente, no seu artigo 4º, inciso III, que diz que é o Estado o responsável por garantir educação aos educandos que possuem necessidades especiais, de preferência, na rede regular de ensino.
Embora seja importante ter uma lei que regulamente e garanta direitos das pessoas com deficiências, e mais especificamente, as pessoas com autismo, pesquisas vem mostrando que ainda não conseguimos ter muito sucesso na educação inclusiva no Brasil. Isso porque, não basta simplesmente colocar o aluno na escola regular, é preciso que a escola esteja preparada para receber os mais diversos alunos com suas especificidades.
É preciso que as escolas estejam preparadas, pois poderá acontecer o efeito inverso: ao invés da criança com autismo ser incluída, ela poderá ser excluída por não ter o suporte para participar das atividades escolares junto com os outros alunos. As escolas precisam de professores preparados, além de prover as acomodações físicas e curriculares necessárias.
As escolas precisam também preparar-se, bem como os seus programas, para atender a diferentes perfis, visto que os autistas podem possuir diferentes estilos e potencialidades. Além de sempre se mostrarem sensíveis às necessidades do indivíduo e habilidade para planejar com a família o que deve ser feito ou continuado em casa.
O autismo leva a pessoa a se relacionar de forma diferente com o mundo, principalmente no que tange a comunicação e a interação com as outras pessoas, exigindo assim, que as escolas estejam preparadas para se adaptar a cada particularidade, e aqui, não só de quem foi diagnosticado com autismo, mas a todos que frequentam a escola, pois a inclusão escolar vai muito além de quem tem algum tipo de deficiência, ela vem para valorizar que somos todos diferentes, que todos temos particularidades que nos são próprias.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

CADA UM NO SEU QUADRADO??!!...

    Quem é mãe de autista, assim como eu, sabe e já ouviu muitas vezes: " deixa..ele está no mundo dele..."
    Agora eu quero falar um pouco de como eu entendo isso a partir das minhas observações e intervenções com o meu filho.
    É  muito complicado  essa coisa de estar no seu mundo.Nós moramos em uma casa que é o nosso mundo, ou melhor , é o mundo do Pedro, onde ele tem quase todas as suas referências, segurança, coisas que gosta como, brinquedos, livros, cd´s, dvds, quarto, mãe, irmã, cachorro. A  nossa casa é o mundo do Pedro, ou aquele que está em primeiro lugar, o seu quadrado. Acontecem diariamente muitas coisas dentro e fora de casa, coisas com as quais temos que saber, ou aprender a lidar e para uma pessoa autista isso é muito mais complicado e difícil, porque existe uma enorme dificuldade  na comunicação, na interação com o outro e na socialização. Eu sinto, observo e percebo, que o novo, aquilo que foge da rotina, acaba causando muita ansiedade e medo e é aí, que acontece a "crise", que o quadrado fica diferente e tudo se desestrutura. Precisamos estar atentos, preparados e organizados para esses momentos de crise. Posso afirmar, que não são fáceis para nós e muito piores para o meu filho.
     O mundo gira...tudo pode melhorar.
      Meu filho esta  numa escola da rede municipal no quarto ano e se alfabetizou e, posso dizer, que este é um outro mundo do Pedro, outro quadrado. Imagine quantas coisas acontecem diariamente numa escola, quantos barulhos, sons, luzes, aprendizado, conteúdos,etc...e é aí que o meu filho tem, que se organizar e participar. Penso como deve ser difícil para ele como autista conviver nesse espaço e ainda aprender coisas novas e uma simples mudança no horário pode ser aquilo, que vai desencadear uma outra "crise". Complicado!
      Hoje, quando estávamos em direção ao ponto do ônibus, este estava vindo , o Pedro saiu correndo e assim conseguimos chegar na escola no horário previsto para o início das aulas. Foi uma coisa imensa a percepção e como ele agiu, ainda mais tendo, que me esperar na porta do ônibus. Sem crise conseguimos chegar ao nosso destino. Neste momento ele se encontra na escola onde tudo deve estar acontecendo.Tudo está ligado e ele tem que lidar com todos esses quadrados.
       Pessoas autistas precisam muito da nossa ajuda, organização, terapias para obter maior independência.
       O mundo gira...tudo pode melhorar com a cooperação de todos, que estão ao seu redor.